Aumento da frequência dos batimentos cardíacos. Palpitações. Falta de ar. Suor excessivo. Boca seca. Tremores. Esses sintomas acontecem durante a sua jornada de trabalho? Pode se tratar de ansiedade relacionada ao trabalho.
Quem aqui já não sentiu, isolada ou conjuntamente, alguns desses sinais e sintomas? Essa pode ser uma reação natural do seu corpo à percepção de ameaças físicas e/ou mentais, como uma resposta fisiológica para você lutar ou fugir. E é também por causa dessa reação primitiva, que nos acompanha desde os primórdios da humanidade quando precisávamos estar alertas para sobreviver aos perigos do ambiente, para correr diante de um leão faminto, que chegamos até os dias de hoje.
Ainda estamos correndo dos leões? Sim, em poucas partes do mundo, continuamos correndo dos leões reais. Entretanto, nos ambientes modernos, onde não existem leões, as ameaças mudaram, mas os mecanismos de luta e fuga relacionados ao medo, continuam os mesmos.
Nos dias de hoje, as nossas ameaças podem estar na insegurança das nossas cidades, na educação dos nossos filhos diante do avanço da oferta de drogas, no ambiente de trabalho, no qual passamos, muitas vezes, a maior parte do nosso dia consciente, com o prazo apertado para cumprimento de metas, ou uma dificuldade de relacionamento com um chefe despreparado ou ainda pelas ausências de políticas de saúde e segurança no nosso ambiente organizacional. Independente da fonte, quando a ansiedade se torna excessiva e persistente e pode comprometer a nossa qualidade de vida e o nosso bem-estar ela passa a ser considerada cientificamente como um transtorno.
Existem vários tipos de ansiedade, incluindo, dentre os mais comuns, transtorno de ansiedade generalizada (TAG), transtorno obsessivo compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtornos de pânico e transtorno de ansiedade social. O que todos têm em comum? Preocupações persistentes relacionadas a eventos os situações de vida não específicos.
Você sabia que a ansiedade é a condição de saúde mental mais comum observada em nossa sociedade e pode ser severamente debilitante, resultar em sofrimento ao afetar o nosso sono, o nosso humor, a nossa concentração, a nossa produtividade, os nossos relacionamentos e a qualidade dos nossos dias.
Compreendendo a ansiedade relacionada ao trabalho
Sentir-se nervoso(a) antes de uma grande apresentação, durante uma reunião acalorada, ou antes de uma reunião de feedback não é incomum. Entretanto, quando esse nervosismo se manifesta de forma mais extrema e em níveis incapacitantes e persistentes de medo, apreensão e preocupação, o impacto sobre o local de trabalho pode envolver a recusa a uma promoção por envolver viagens ou falar em público ou sentir-se incapaz de cumprir prazos, ou ainda, evitar as festas e almoços de equipes ou até mesmo reuniões importantes em virtude das manifestações fisiológicas que esses eventos causam.
Há evidências crescentes de que o ambiente de trabalho pode ter um papel importante no desencadeamento ou agravamento dos transtornos mentais, dentre eles, os transtornos de ansiedade como consequência a uma variedade de características deste ambiente, sejam elas:
– Sobrecarga de trabalho
– Elevados níveis de estresse
– Estresse crônico
– Insegurança no emprego
– Liderança despreparada
– Ausência de direcionamento das tarefas
– Baixa recompensa
– Sensação de injustiça
– Lidando com o bullying
– Relacionamentos conflituosos
Sintomas de ansiedade no local de trabalho
A ansiedade relacionada ao trabalho pode se manifestar de diversas maneiras, de forma específica para cada pessoa, envolvendo sintomas físicos, mentais e emocionais. Quando aprendemos a reconhecer os sinais e sintomas de ansiedade em nós mesmos, entre colegas ou outras pessoas próximas, que se manifestará através da mudança de comportamento, certamente repercutirá no sucesso do tratamento multidisciplinar. E quais seriam esses sintomas?
– Preocupação excessiva ou irracional
– Sentir-se isolado(a)
– Alterações no sono
– Incapacidade de foco e concentração
– Falta de energia e/ou fadiga
– Redução do desempenho
– Desvinculação do trabalho
– Perda de interesse em atividades antes prazerosas
– Aumento da irritabilidade
– Produtividade reduzida
– Reações exageradas a situações do trabalho
– Destacar mais nos aspectos negativos seja da própria atividade, do setor ou da empresa
– Redução das habilidades sociais
Gerenciando a ansiedade relacionada ao trabalho
Antes de tudo, compreenda que todas as ações precisarão começar por você! Nesse sentido, o autoconhecimento e o autocuidado têm uma parcela significativa no controle da sua ansiedade relacionada ao trabalho. Examinar qual o agente que está por trás do seu medo e perguntar a si mesmo(a) se é um medo real ou irreal, é de fundamental importância.
Evite estratégias de enfrentamento de alívio temporário que, na maioria das vezes, irão até contribuir para o agravamento da ansiedade, como abuso de álcool e outras drogas, uso excessivo de cafeína, compulsão alimentar e abuso de medicamentos prescritos. Construir novos ou aperfeiçoar os bons hábitos antes, durante e após a sua jornada de trabalho, levarão você de volta a sua jornada na direção do bem-estar. Aqui estão alguma estratégias para essa construção:
– Reserve um tempo para você, fora do trabalho
– Tenha consciência da sua respiração a aprenda a utilizá-la de forma adequada no seu dia a dia
– Mantenha uma rotina de encontros com pessoas que lhe fazem bem
– Leia um livro, assista um filme que desperte em você um sorriso ou o(a) faça dar sonoras gargalhadas
– Invista nos seus hobbies
– Não pule os horários de almoço e faça sua refeição fora do seu posto de trabalho
– Se possível, faça caminhadas ao ar livre nos intervalos de descanso
– Buscar ajuda especializada em saúde mental
Compartilhando a sua situação com o seu empregador
Compartilhar ou não com o seu empregador sobre a sua situação de saúde muitas vezes será uma decisão difícil. E ela será mais difícil se sua empresa não tiver investido numa política de saúde mental no trabalho também visando a segurança psicológica. Mas, você não saberá até compartilhar.
Antes de qualquer comunicação, é muito importante que você reconheça que é portador(a) de um transtorno de ansiedade, que tenha procurado atendimento médico e psicológico e que tenha compreendido e aceitado a conduta especializada. É necessário estar nesse nível de consciência para também estar preparado para as possíveis reações iniciais da sua liderança, dos seus colegas, dentre outros. Talvez uns pouco irão julgá-lo(a), outros o(a) comentarão que se trata de fraqueza mas a maioria costuma ser receptiva, empática e oferecerá apoio.
Compreendendo que o controle está nas suas mãos
Quando compreendemos que a maior parte dos nossos temores não são reais e são memórias emocionais que disparam quando determinadas redes de informação no nosso cérebro são acionadas já estamos retomando o controle da nossa vida. E superados os medos, passamos a nos sentir mais corajosos e motivados a continuar nossa jornada com mais clareza.
Nesse momento, muitas vezes iremos perceber que, apesar de termos seguido à risca todas as estratégias de gerenciamento da ansiedade relacionada ao trabalho, o trabalho continua sendo uma fonte constante de estresse, a cultura organizacional continua tóxica, as demandas são excessivas e as pressões são prejudiciais. E não restará outra opção segura que não seja mudar de atividade ou de setor na própria empresa, mesmo mudar de local de trabalho ou até mesmo mudar de carreira.
Tenha em mente
Manifestações de ansiedade e estresse não devem ser ignoradas. Procurar ajuda especializada não é sinal de fraqueza e sim, de coragem para enfrentar seus desafios! Com o tratamento adequado, a maioria das pessoas encontrará melhora significativa através de abordagens cientificamente comprovadas.
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