Qualquer pessoa que tenha experienciado uma cultura organizacional tóxica, sentiu que aquele ambiente hostil diminuía sua produtividade e o seu bem-estar dentro e fora do trabalho e não consegue, por algum tempo, esquecer a pressão constante, o medo de errar frequente, a comunicação completamente falha, o reconhecimento pelo seu esforço inexistente, dentre tantos outros sentimentos que se não conduzidos de forma assertiva, poderão ser responsáveis por quadros sugestivos de Transtorno de Estresse Pós Traumático, Ansiedade e/ou Depressão. E não raramente esses sentimentos estressantes ou esse adoecimento lento vão levando ao desengajamento costumam ser responsáveis pela fuga de excelentes profissionais em busca por outras oportunidades.
Quem já passou por isso, sabe do que estou falando! E até quem não passou, talvez tenha conhecido alguém no trabalho que foi mudando o comportamento, perdendo o brilho, preferindo o isolamento para não perder o controle, diminuindo a qualidade da sua entrega devido a conflitos de valores pessoais com os organizacionais.
Mas o que seria uma cultura de trabalho tóxica?
Começarei com pistas: negatividade generalizada, disfunção, medo, sentimentos de desvalor e falta de apoio. Parecem pessoais, mas o impacto de uma cultura organizacional tóxica se estende além da linha da individualidade e se estende por toda a equipe, contaminando o engajamento e a colaboração, amplificando a desconfiança e a competição e semeando os comportamentos anômalos relacionados ao bullyng, ao mobbing, a discriminação e ao favoritismo.
Para além do adoecimento individual ou coletivo, do aumento do absenteísmo e das reclamações trabalhistas e das altas taxas de rotatividade, uma cultura organizacional tóxica pode ultrapassar os muros da empresa e prejudicar a sua reputação diante dos consumidores e potenciais empregados, ofuscando a atração de talentos e clientes valiosos. Há alguma dúvida que todo esse cenário comprometem o desempenho de uma empresa e da sua prosperidade? É por esta razão que identificar o mais precocemente os sinais de uma cultura organizacional tóxica e atuar ferozmente na abordagem dos fatores que a estão alimentam, podem garantir a saúde e o sucesso a longo prazo.
Mas como identificar se a sua empresa sofre desse mal?
Metaforicamente, uma cultura organizacional tóxica age como um vírus se espalhando pela empresa, contaminando todos os setores, enfraquecendo os relacionamentos, alimentando a fofoca, minando a motivação e comprometendo a saúde física, mental e emocional dos empregados. Os sintomas mais comuns de uma cultura de trabalho tóxica, considerando-se que podem variar de empresa para empresa, são:
- Altos níveis de estresse entre os empregados, independente das áreas de atuação ou setores;
- Baixo engajamento dos empregados com as tarefas, na maioria das vezes por falta de reconhecimento;
- Falta de confiança na liderança diante do desalinho entre o que prega e o que faz;
- Panelinhas, fofocas e comportamentos excludentes, refletindo uma falha no comando da equipe;
- Baixa taxa de retenção, devido às frustrações, levando os empregados a procurarem melhores oportunidades em outras empresas.
Desvendando as causas da toxicidade
Desde gestores venenosos, com fracas capacidades de liderança e baixíssima credibilidade a empregados com problemas mentais e/ou psicológicos sem o devido acompanhamento, todos ao redor são afetados negativamente, podendo levar ao aumento das licenças médicas frequentes entre os outros empregados, diminuição da produtividade das equipes, dentre outros.
Segundo os estudos, os maiores motivadores de um ambiente de trabalho tóxico são:
- A falta de delineamento da Alta Gestão sobre os valores fundamentais da empresa que formam os pilares organizacionais;
- Os valores fundamentais desalinhados com as políticas, diretrizes e práticas organizacionais;
- Uma comunicação falha e a falta de transparência levando ao trânsito de uma informação distorcida, retida ou utilizada como instrumento de poder;
- Uma liderança despreparada ou ineficaz exemplificada por líderes adeptos do microgerenciamento, da intimidação e da falta de direcionamento dos processos bem como pela falta de clareza nos objetivos, nas expectativas e nos feedbacks, gerando insegurança e desconfiança entre os empregados. Gritar com subordinados, humilhá-los publicamente, atribuir tarefas impossíveis e sobrecarregar a equipe são comportamentos comuns em culturas organizacionais tóxicas;
- A competição exagerada, predatória, criando um clima de rivalidade e sabotagem entre os colegas. Nesse clima, a colaboração é substituída pela desconfiança e pelo individualismo;
- As micro agressões, a discriminação e o preconceito no ambiente de trabalho levando a tratamentos injustos baseados em raça, gênero, sexo, idade ou outros fatores que criam um clima de hostilidade e exclusão para grupos minoritários;
- As cargas de trabalho exaustivas, sejam físicas ou mentais, cobranças excessivas e a pressão constante para “estar sempre disponível” podem levar ao desequilíbrio entre a vida pessoal profissional e ao esgotamento, comprometendo a saúde e os relacionamentos;
- A falta de reconhecimento pelo esforço, dedicação e conquista dos empregados, bem como a falta de feedback positivo e de oportunidades de crescimento fazem com que os empregados se sintam desvalorizados e até invisíveis, diminuindo a autoestima, a motivação e aumentando a frustração e o ressentimento.
Combatendo a disseminação de uma cultura tóxica: o que as empresas precisam fazer
Criar uma cultura organizacional saudável exige abordar cada uma das causas responsáveis pela criação de ambientes tóxicos ao mesmo tempo em que precisa semear e apoiar comportamentos positivos em todos os níveis da organização. Aqui relaciono algumas ações eficazes para começar:
- Desenvolver políticas organizacionais claras e consistentes
As políticas de uma organização não são criadas do nada. Elas vêm de uma demanda interna adaptada às demandas externas. Como os Gestores de RH e os líderes de uma empresa as interpretam e as aplicam, pode ser o fator decisivo para o sucesso da mesma.
Políticas bem delineadas agem como diretrizes para o comportamento esperado e a tomada de decisão, reduzindo a ambiguidade, o favoritismo e os conflitos. Todas elas devem estar seguramente documentadas e ser acessíveis e divulgadas e aplicadas uniformemente em toda a organização;
- Fortalecer os Serviços de Saúde Ocupacional e Segurança Ambiental
A inexistência ou o enfraquecimento dos Serviços Especializados em Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho (SESMT) pode, conforme revelam alguns estudos, contribuir significativamente para a propagação de uma cultura organizacional tóxica, aumentando os índices de burnout, ansiedade e depressão entre os empregados. A falta de um SESMT estruturado dificulta a captação de dados de saúde geral e ocupacional o que leva a falta de direcionamento nos programas preventivos e a identificação de situações cujo meio ambiente pode estar interferindo negativamente sobre o bem-estar, impedindo a minimização dos riscos ocupacionais.
Ressalto que o SESMT além de atuar na prevenção de doenças e acidentes de trabalho, também é um agente muitíssimo importante na promoção de um ambiente de trabalho psicologicamente saudável. Seja através de palestras, treinamentos e campanhas de conscientização, esses Serviços também abordam temas e podem estruturar ações legais sobre a violência no trabalho como o assédio moral e sexual, a comunicação não violenta e a gestão de conflitos. Portanto, manter e fortalecer a participação ativa dos SESMT´s na construção de uma cultura organizacional focada no bem-estar, não é um custo e sim, um investimento estratégico que beneficia toda a organização.
- Promover uma liderança eficaz
Os líderes precisam agir como os maiores disseminadores da cultura, modelando o comportamento que esperam das suas equipes. Isso significa ser empático, claro, transparente, justo, honesto e direto com todos os seus subordinados, ao mesmo tempo em que estabelece metas e expectativas claras e razoáveis. Também requer oferecer suporte e feedback contínuos com o objetivo de desenvolver e aperfeiçoar os seus liderados e ajudá-los a ter sucesso. Para tanto, a gerência de Recursos Humanos precisa estabelecer programas de treinamento para educá-los em cada uma das habilidades acima descritas.
- Criar um canal de comunicação transparente, aberta e respeitosa
Uma comunicação eficaz, principalmente entre os empregados, gerências de RH e liderança é fundamental para combater uma cultura organizacional tóxica. A criação de canais que permitem que os empregados expressem suas opiniões, ideias e preocupações livremente, sem medo de represálias, promove uma segurança psicológica e ainda facilita a identificação e resolução de conflitos e fortalece as relações interpessoais. Quando os canais de comunicação são eficazes há o enfraquecimento das situações de assédio moral e sexual e outras práticas nocivas, contribuindo para a diminuição do adoecimento mental e emocional e aumentando a satisfação dos empregados.
- Criar um Programa de Reconhecimento
Todos nós já passamos, em algum momento nas nossas vidas, pela linha de chegada de um objetivo importante atingido com sucesso! Ou talvez tenha tido a sensação de pertencimento na realização de um projeto que beneficiaria muitas pessoas. Em ambos os casos, o reconhecimento é um agente impulsionador e motivador para alçar vôos mais altos. Por outro lado, a falta de reconhecimento ou mesmo uma tímida apreciação, costuma nos desestimular impedindo que coloquemos o mesmo esforço da próxima vez.
A falta de reconhecimento ou o reconhecimento inconsistente alimenta uma cultura de trabalho tóxica. A criação de programas de reconhecimento exerce um papel crucial no combate a uma cultura organizacional tóxica pois atuam diretamente na valorização dos empregados ao reconhecer os esforços, as conquistas e o bom desempenho de cada um além de enaltecer seus talentos e criar um clima de admiração e respeito e contribuindo para diminuição do turnover.
- Investir no Bem-Estar dos empregados
O investimento em Programas de Bem-Estar para os empregados nunca deveria ser considerado como um custo! Por ser uma estratégia poderosa no combate a uma cultura organizacional tóxica, é um grande investimento, pois demonstra o compromisso da empresa com a saúde física e mental dos seus empregados. Esses programas, baseados no estudo da realidade de cada empresa, podem incluir iniciativas com ginástica laboral, atendimento psicológico, nutrição, incentivo à prática de atividades físicas, meditação, yoga que contribuem para diminuir os níveis de ansiedade, estresse e burnout. Estudos já revelaram que empresas que investem em programas de bem-estar específicos para a sua população, apresentam menor índice de absenteísmo e maior retenção de talentos, além do impacto positivo sobre o clima organizacional.
- Promover a diversidade, a equidade e a inclusão
A promoção da diversidade, da equidade e da inclusão no ambiente de trabalho é mais um componente estratégico e crucial para o combate de uma cultura organizacional tóxica. Ao cultivar um ambiente onde cada empregado, independente da sua raça, gênero, orientação sexual, idade ou qualquer outra característica, possa se sentir valorizado, respeitado e acolhido, cria-se uma barreira poderosa contra a discriminação, o preconceito e a exclusão, elementos que alimentam a toxicidade. Todas as ações nesse sentido, além de promoverem justiça social no ambiente de trabalho, contribuem para a criação de um espaço rico em perspectivas, experiências e talentos, impulsionando a criatividade, a inovação e a resolução de problemas e, consequentemente impulsionando positivamente os resultados financeiros de uma organização.
A construção de uma cultura organizacional saudável impõe uma vigilância permanente e ação proativa. Meu objetivo nesse texto foi dar pistas sobre os sinais de uma cultura tóxica bem como enumerar algumas estratégias gerais que, com criatividade e boa vontade, mesmo que com poucos recursos financeiros, podem neutralizar a toxicidade organizacional e cultivar um ambiente de trabalho positivo, produtivo e sustentável! Fique certo(a) de que qualquer que seja o investimento, se direcionado especificamente ao corpo funcional, contribuirá para o sucesso a longo prazo de toda a sociedade!