Sabendo que, pelo menos, uma em cada quatro pessoas passará por um problema de saúde mental ainda este ano, quantas dessas pessoas estão silenciadas pela doença no local de trabalho?
O trabalho desempenha um papel muito importante na nossa saúde física, mental e emocional. Essa afirmação pode ser enquadrada como bíblica, filosófica, científica ou experiencial. Pode escolher e você encontrará uma verdade. Se fazemos o que amamos ou amamos o que fazemos, o trabalho pode ser protetor; entretanto, se não nos identificamos com a cultura organizacional, não utilizamos nossas habilidades nas tarefas diárias, não temos bons e saudáveis relacionamentos no ambiente de trabalho, somos chefiados por pessoas despreparadas e não há reconhecimento pelo nosso trabalho, estamos correndo um grande risco de adoecimento físico, mental, emocional e até espiritual, com repercussões na nossa vida familiar, social, financeira e no nosso propósito de vida.
Em algum momento da nossa vida, poderemos nos deparar com desarranjos mentais e emocionais como consequência das situações nas quais perdemos a nossa capacidade de adaptação, seja porque elas são emocionalmente intensas, como o luto, as tragédias ou mentalmente e emocionalmente desgastantes como a lida com as doenças crônicas (físicas e mentais) ou trabalhar em ambientes tóxicos sem outras opções à vista. Quando se recebe um diagnóstico de um transtorno mental e/ou comportamental, o que mais se deseja é respeito, compreensão e empatia mas o que se costuma encontrar é o julgamento, preconceito e estigma principalmente no ambiente familiar e no local de trabalho.
Silenciados pela Doença
Quem já não falou ou escutou: “Só está assim porque não tem uma pilha de roupas para lavar na mão.”? Quem fala, está deitando e rolando no julgamento. Quem escuta, sente a alma transfixada pelo preconceito. Para o primeiro, que atira pedras, lembrar que na vida, o que lanço, retorna. Não se trata de praga, se trata de fato pois a nossa humanidade e as estatísticas nos tornam mais frágeis do que muitas vezes imaginamos. Para o segundo, é como se já morto, a outra pessoa continua a lhe esfaquear. É essa a dor, eu sei.
E o que parecia já ser ruim, passa a ser cruel quando toda a cena anterior se passa no ambiente de trabalho pois, o que era pessoal, de um para um, passa a ser coletivo. E, nesse momento, quando a empresa não disponibiliza aos seus empregados um mínimo de segurança psicológica, o cumprimento da jornada de trabalho passa a ser uma tortura.
No início você ainda tem forças para resistir às turbulências emocionais e recorre ao silêncio para continuar trabalhando. Mas daí, apenas com essa mudança de comportamento – silenciar – todos os olhares se voltam para você e debocham porque você está diferente. Será que aqui já poderíamos reconhecer um segundo ato de violência, o mobbing? Daí para a próxima ida ao psiquiatra é um pulo! – Preciso me afastar, doutora! Não suporto mais ir trabalhar e sentir o que venho sentindo. Volto todos os dias chorando para casa , não estou mais conseguindo dormir e, pela manhã, começo a tremer ao pensar que preciso ir trabalhar! Por favor, me ajude a não enlouquecer! E aqui, será que haveria indícios de um transtorno de estresse pós-traumático?
Para quem já está se afogando, não encontrar sob os seus pés a terra firme, ao seu redor uma boia ou ver um filete de luz ou praia até onde a vista dá, aumentará ou não a possibilidade de um trágico fim? Pois é mais ou menos assim que um portador de um transtorno mental se sente quando trabalha em empresas que não possuem políticas reais de saúde com foco na saúde mental e emocional ou outras que fingem que tem mas quando se procura os dados que revelam os resultados positivos, eles estão perdidos no mar do blá blá blá ou ainda outras que tem um setor de recursos desumanos e não uma gestão humanizada de pessoas.
E por onde andaria o Médico do Trabalho dessas empresas? Procura aí! Talvez lidando com seus estresses crônicos pelo alto nível de frustração que o faz de conta de parecer estar cuidando das pessoas costuma gerar numa mente consciente ou talvez deixando o barco seguir porque quem paga o salário dele é a empresa adoecida e geradora de pessoas adoecidas e, ele não paga a conta no final do banquete de negligência.
Como essa história costuma acabar? Nas mãos dos defensores do direito do trabalho que, após a primeira martelada indenizatória por danos físicos, mentais e emocionais, está inaugurando o começo do fim de uma empresa. Como essa história ainda pode acabar quando não se trata apenas de reparo financeiro? Com uma vida destruída pelo estigma no ambiente de trabalho.
Adorei muito bem feito